quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A janela

   Um desses dias aí atrás, parei à tua frente e num estalo de razão procurei buscar sentido em sua existência. Teu nome da significado a uma série de  parafernálias úteis e inúteis que conheço. Tua boca aberta transpõe ar e luz, fechada sufoco e breu. Um rasgo por onde se percebe o horizonte estático. Quando existe em palavras é sempre a que falta e se deve escrever. Quando em velocidade anda, tua forma é variável e moldada numa paisagem móvel. Quando moderna: mulher fácil, do tipo que disponibiliza qualquer programa, se sujeita aos comandos do seu usuário.
Guilhotina com duas partes constantes: uma interna e uma externa. Sobe e desce, corre para direita e para a esquerda, vai para dentro ou para fora, tudo para se abrir ou fechar. Se és sacada tens flores e se abre no rés do pavimento. Se estas aberta trás o ar, se fechada proteção.
Não te basta apenas ser buraco para o vento e onde a luz goteja no breu. Tens que permitir olhar o céu, o sol e toda beleza que sua limitação permite. As vezes acho que tudo foi construído a sua volta. Até porque você traz para dentro aquilo que devia ter ficado fora.
Nos barracos é humilde, nos casebres também. Em mansões é talhada, em palácios é arte. Mas a luz que pinga através de tuas arestas vem do mesmo sol. Não existe um sol para cada um. O que existe são tantos uns para um único sol e tu é quem entrega, pedaços desse sol, para quem está dentro. Traz vigor às paredes que te aparecem, e, memória às vidas que te conhecem. Quando não és suficiente, ninguém hesita em criar mais. Tu me liga ao meu jardim, porém me deixa no meio do caminho entre a liberdade e a prisão. Já que aberta é só luz, fechada solidão. Na fuga é escape, no calor ventilação. No frio aquecimento, e quando há céu constelação … na alma a mais bela, na minha casa é só janela.


Eli Negreiros

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