quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Pau-de-arara

Ao contrario do que cantam na musica “pau-de-arara”, a vida aqui só é ruim todo dia que temos que pegar ônibus. Se chover no chão pode ter certeza que dentro do ônibus vai ter uma goteira bem onde você está. Se não chover tem poeira de montão. Se você optar por esperar o próximo ônibus ele virá mais lotado do que o anterior e ainda ficará de molho na parada um tempão. Não tem um dia que não deixemos o nosso “cariri” nesses “paus-de-arara”. O termo “pau-de-arara” é originário do costume de se amarrar aves, para a venda, numa vara, onde as mesmas ficam penduradas, para o transporte. Por analogia o termo ganhou duas acepções diferentes, a primeira foi empregada a um método de tortura muito utilizado no Brasil, principalmente no período da ditadura militar, nos conhecidos anos de chumbo. Hoje não é diferente dentro dessas “carroças” que são vulgarmente chamadas de “baú” ou “busú”. Chega a ser uma tortura ter que ficar pendurado feito galinhas, tentando se equilibrar porque o motorista é tão profissional que até parece um piloto de fórmula um. O pior é quando estamos com sacolas ou papeis nas mãos e as pessoas que conseguem um lugar ao sol, e sentados, não têm um pingo de sensibilidade para ajudar. Tenho pra mim que em pau-de-arara o povo é mais solidário, pelo menos todos vão ao sol e no mesmo grau de desconforto. Não existe nenhum tipo de supervisão nos ônibus do Entorno que rodam no DF, e se tem devem ser secretamente e ainda não chegaram a uma conclusão de como agir. O Ministério dos Transportes, o Departamento Metropolitano de Transporte Urbano (DMTU) e a Policia Rodoviária Federal não controlam rotas e horários. Sem falar do monopólio que existe no Entorno Sul. Segundo a ANTT, “não é possível permitir a entrada de mais empresas no mercado, pois não seria possível garantir a rentabilidade do investimento”. É de se revoltar o descaso e o desrespeito com que a ANTT e os governantes tratam a população. Como antigamente hoje também tem “coronéis” que ditam as regras. O preço das passagens aumenta desordenadamente, e não temos uma segunda opção. Na segunda acepção o termo “pau-de-arara” dá nome a um meio de transporte irregular, e ainda utilizado no Nordeste do Brasil. Caminhões são adaptados para o transporte de pessoas, constituindo-se em substituto improvisado para os ônibus convencionais. (não é a toa que se parecem tanto com os ônibus da capital). Sobre a carroceria do veículo são colocadas tábuas, que servem de assento, e a instalação de uma lona como cobertura completam a adaptação destes para o transporte. (sem dúvida esses ônibus que nos atendem, são cópias um pouco mais modernizadas dos paus-de-arara que temos no Nordeste).
O transporte coletivo da Capital da República e do Entorno está longe de ser um modelo ideal. O usuário que o diga. Os problemas são pequenos comparados a grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. Mas, por sermos sede do Governo Federal, e casa do “retirante pernambucano” que ocupa a Presidência da República, são sim de gravidade. As reclamações são sempre as mesmas: “ó pau-de-arara que demora”, “esse pau-de-arara só passa abarrotado de gente”… Pois é, aqui continua como terra de ninguém. Ainda é a terra do aquém. A quem recorrer? Ao DF ou ao Entorno? Então é isso, vou deixando o meu “cariri” não porque é o último e sim porque é o único, e o próximo vai demorar… E provavelmente vai quebrar antes de chegar à “capital”. “Tomara que chova logo tomara meu Deus tomara…”.

Esculte a musica Pau-de-arara com Zé Ramalho




Último Pau de Arara

(Palmeira Guiimarães/Rosil Cavalcanti)

A vida aqui só é ruim quando não chove no chão mas, se chover dá de tudo fartura tem de montão, tomara que chova logo tomara meu Deus tomara só deixo o meu cariri no último pau-de-arara (BIS)Enquanto a minha vaquinha tiver o couro e o ossoe puder com o chocalho pendurado no pescoço eu vou ficando por aqui que Deus do céu me ajudequem sai da terra natal em outros cantos não para só deixo o meu cariri no último pau-de-arara (BIS)

Carta aos meus segredos

Por onde começar ainda não sei. Talvez, por causa do cansaço, comece pelo fim. Meu passo se encheu pressa, meu braço se encheu de peso. ...