
Quero ser um pouco mais bobo. Dentro de mim existe alguém vagaroso que precisa de tempo. Esse alguém quer um lugar para ficar; quer olhar as poças d'água na chuva - sem proteção alguma - e quero sentir as gotas molhando minha cabeça. Um menino bobo que quer se dedicar mais aos detalhes, por mais bobos que sejam. Quando olho os detalhes, olho o mundo de frente de coração aberto. Pouco a pouco registro as características do ambiente e das pessoas, e, mais tarde, já sozinho, lembro dos momentos, dos cheiros, gostos, sensações. Passo a ser o portador dos detalhes de histórias que fazem toda a diferença em mim. Não é somente uma chuva que cai, são paisagens que se tornam fotografias em minha mente e ficam gravadas na memória. É meio bobo, mas acalma o coração e a mente, ajuda a manter a flexibilidade para eu ver aquelas rígidas distinções entre a amizade e o interesse das pessoas, o valor bom e o valor não tão bom assim. Com o tempo minha mente vai largando o artificial e agarrando o natural, aquilo que realmente importa e não deixa de ser verdade. Tenho para mim que para os outros, somos reflexos das primeiras impressões. Não enxergamos os detalhes, que são os primeiros que estão por trás de tudo. Observar melhor é dissolver todas as fronteiras, como se tivesse fazendo um esforço para olhar através da chuva. Um bobo pode ir a qualquer lugar. Não importa se sabe ou se tem que provar alguma coisa. Um bobo olha para as coisas como se fosse sempre a primeira vez. Quando chega a hora de ser bobo, eu sou, e faço dessa experiência algo fascinante.
O Bobo!